Interpretação e acentuação (9º ano)
TEXTO 1:
Defenestração
Certas palavras têm o significado errado. Falácia,
por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas
deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A
misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de
andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
– Os hermeneutas estão chegando!
– Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada…
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam
todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se
retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até
que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter
um sentido oculto. (...)
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
– Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está
gasto.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto
defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu
significado, nunca lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas.
Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um
certo tom lúbrico.
Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido
das mulheres:
– Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas… Ah,
algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As
pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores
profissionais. Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que
encerravam os documentos formais? “Nestes termos, pede defenestração…” Era uma
palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
– Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como
dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata. Um dia, finalmente,
procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração”
vem do francês “defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou
algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou a
minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome
próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não
existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela
porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um
vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo. (...)
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar
alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a
defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro
reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia
humana, nunca totalmente dominada. Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º
andar.
– Querida…
– Mmmm?
– Há uma coisa que preciso lhe dizer…
– Fala, amor!
– Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
– Estou pronta para experimentar tudo com você!
Em outra ocasião, uma multidão cerca o homem que
acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:
– Fui defenestrado…
Alguém comenta:
– Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar
o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque
resisti.
Luis Fernando Verissimo
1. De acordo com esse texto, o que é defenestração?
a) Dedetizar insetos pelas
ruas.
b) Fazer solicitação ao
juiz.
c) Galantear alguém nas
calçadas.
d) Atirar algo ou alguém
pela janela.
e) Uma peça mecânica.
2. Considerando-se
o conjunto de informações do texto, o narrador se diz fascinado pela palavra defenestração,
porque:
a) ele desconhecia o
significado da palavra.
b) ele imaginava o
significado da palavra como algo exótico.
c) ele imaginava o
significado da palavra como algo proibido.
d) ele ligava a palavra à
linguagem jurídica ou técnica.
e) ele se encantava com a
palavra, primeiro por causa dos significados que imaginava para ela, depois por
causa do significado dicionarizado dela.
3. No decorrer do texto, o narrador imaginava possíveis
significados para defenestração. Pela
ordem, poderíamos dizer que ele atribuía à palavra os seguintes sentidos:
a) conduta sexual não
convencional, dedetização, deferimento.
b) prática ilegal,
arrumação, requerimento.
c) xingamento, cuidados
domésticos, documento formal.
d) indiscrição, arrumação,
providências.
e) conduta imprópria,
consertos, aprovação.
4. No trecho Ou quem sabe seria uma daquelas
misteriosas palavras que encerravam os documentos formais, o narrador
utiliza misteriosas referindo-se:
a) ao fato de que as
palavras sempre podem ser utilizadas de várias maneiras.
b) ao fato de que a
linguagem formal (jurídica, no caso) utiliza palavras cujo significado é desconhecido
pela maioria das pessoas.
c) ao fato de que as
pessoas em geral não se preocupam em ler os documentos formais.
d) ao fato de haver baixo
nível de formação escolar neste país.
e) ao fato de as palavras
sempre possuírem significados ocultos.
5. Depois de descobrir o real significado de defenestração,
o narrador continua fascinado pela palavra porque:
a) o significado dela
remete a um ato pouco comum, e ele fica imaginando as razões da existência de
tal palavra.
b) ele não havia pensado
na possibilidade do significado real.
c) ele não vê utilidade na
palavra.
d) ele não se mostra
favorável a estrangeirismos.
e) o significado da
palavra remete a uma ação que não praticamos em nossa cultura.
6. A princípio
foi o fascínio da ignorância. Nesta
frase, as palavras receberam acento por serem:
a) proparoxítonas.
b) paroxítonas terminadas
em o.
c) paroxítonas terminadas em
ditongo crescente.
d) proparoxítonas
terminadas em ditongo crescente.
e) paroxítonas terminadas
em a.
7. E aí está o Aurelião que não me deixa
mentir. A palavra destacada é acentuada pelo mesmo motivo de:
a) nó
b) táxi
c) até
d) dói
e) contribuí
8.
Assinale o item em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra de: exótico, até e dicionário.
a) óculos, café, água
b) lâmina, ré, aquário
c) biólogo, pé, necessária
d) comprássemos, fé, língua
e) impaciência, você, dúvida
9. Marca o item em que
necessariamente o vocábulo deve receber acento gráfico:
a)
esta
b)
proprio
c)
rape
d)
habito
e) vicio
10. Assinala a alternativa correta:
a) Na primeira frase do texto,
a palavra têm foi empregada com
acento para diferenciar o plural.
b) Assim como lua-de-mel,
a palavra auto-escola deve ser
escrita com hífen.
c) São exemplos de proparoxítonas: mecânica, herméticos, óbvio.
d) “Defenestração”
vem do francês... Nesse trecho,
a palavra destacada é uma forma do verbo ver.
e) amassá-lo
recebe acento por se tratar de uma proparoxítona.
TEXTO 2:
Os três
pássaros do rei Herodes
(lenda)
Pela triste estrada de Belém, a Virgem
Maria, tendo o Menino Jesus ao colo, fugia do rei Herodes.
Aflita e triste ia em meio do caminho
quando encontrou um pombo, que lhe perguntou:
– Para onde vais, Maria?
– Fugimos da maldade do rei Herodes, –
respondeu ela.
Mas como naquele momento se ouvisse o tropel
dos soldados que a perseguiam, o pombo voou assustado.
Continuou Maria a desassossegada viagem
e, pouco adiante, encontrou uma codorniz que lhe fez a mesma pergunta que o
pombo e, tal qual este, inteirada do perigo, tratou de fugir.
Finalmente, encontrou-se com uma
cotovia, que, assim que soube do perigo que assustava a Virgem, escondeu-a e ao
menino, atrás de cerrado grupo de árvores que ali existia.
Os soldados de Herodes encontraram o
pombo e dele souberam o caminho seguido pelos fugitivos.
Mais para a frente a codorniz não
hesitou em seguir o exemplo do pombo.
Ao fim de algum tempo de marcha,
surgiram à frente da cotovia.
– Viste passar por aqui uma moça com
uma criança no regaço?
– Vi, sim – respondeu o pequenino
pássaro – Foram por ali.
E indicou aos soldados um caminho que
se via ao longe. E assim afastou da Virgem e de Jesus os seus malvados
perseguidores.
Deus castigou o pombo e a codorniz.
O primeiro, que tinha uma linda voz,
passou a emitir, desde então, um eterno queixume.
A segunda passou a voar tão baixo, tão
baixo, que se tornou presa fácil de qualquer caçador inexperiente.
E a cotovia recebeu o prêmio de ser a
esplêndida anunciadora do sol a cada dia que desponta.
1. O texto é uma lenda porque:
a) faz menção a uma passagem bíblica do Novo Testamento.
b) narra uma história fantasiosa transmitida pela tradição
oral.
c)
faz uma revelação
importante.
d) está baseado num fato histórico, que realmente
aconteceu.
e) os animais falam.
2. Com relação à expressão “Pela triste estrada de Belém”, podemos afirmar
que:
a) a paisagem era deserta, sem árvores.
b) o autor estava triste quando escreveu o texto.
c) Maria estava
angustiada e triste e, com isso, todo o ambiente parecia triste.
d) essa é uma pista que o narrador nos dá de que o desfecho
será ruim.
e) o caminho era muito longo e assim deixava a impressão de tristeza.
3. Assinala o único item que NÃO se aplica nem ao pombo nem à codorniz:
a) covardia
b) medo
c)
egoísmo
d) coragem
e) delação
4. A codorniz não hesitou em seguir o exemplo do pombo.
O exemplo da:
a) fuga
b) mentira
c)
violência
d) amizade
e) delação
5. Assinala o item que caracteriza a cotovia:
a) solidária
b) delatora
c)
orgulhosa
d) esquiva
e) sarcástica
6. Como castigo, a linda voz do pombo passou a ser um:
a) pio
b) gorjeio
c)
latido
d) uivo
e) arrulho
7. De acordo com o texto, a cotovia canta:
a) na aurora
b) de madrugada
c)
ao meio-dia
d) ao anoitecer
e) no pôr-do-sol
8. A codorniz “passou a voar tão baixo, tão baixo, que se tornou presa fácil de qualquer caçador inexperiente.” A
expressão grifada dá a ideia de:
a) condição
b) consequência
c)
causa
d) tempo
e) finalidade
9. Assinala a alternativa em
que NÃO há correspondência entre a explicação e a
significação da palavra no texto:
a) inteirada do perigo: cientificada do perigo
b) cerrado grupo de árvores: compacto grupo de árvores
c)
com uma criança no regaço: com uma criança na garupa
d) não hesitou em
seguir o exemplo: não titubeou em seguir o exemplo
e) cada dia que desponta:
cada dia que surge
10. A cotovia deu aos perseguidores uma pista falsa porque:
a) era mentirosa.
b) queria se vingar das outras aves.
c)
era inimiga de
Herodes.
d) sabia que poderia ser punida por Deus.
e) queria salvar a Virgem Maria e o Menino Jesus.
TEXTO 3:
Oração sem nome
O autor desse poema, quem o sabe? Foi encontrado em pleno campo de
batalha, no bolso de um soldado americano desconhecido; do rapaz estraçalhado
por uma granada, restava apenas intacta esta folha de papel.
Escuta, Deus:
jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram-me que tu não existes,
e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado a tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por
granadas,
vi teu céu estrelado
e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás a minha mão.
Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo
achei a luz para enxergar o teu rosto.
Dito isto, já não tenho muita coisa a te
contar:
só que... que... tenho muito prazer em
conhecer-te.
Faremos um ataque à meia-noite.
Não sinto medo.
Deus, sei que tu velas...
Há! É o clarim! Bom Deus, devo ir embora.
Gostei de ti... vou ter saudade... Quero
dizer:
será cruenta a luta, bem o sabes,
e esta noite pode ser que eu vá bater-te
à porta!
Muito amigos não fomos, é verdade.
Mas... sim, estou chorando!
Vês, Deus, penso que já não sou tão mau.
Bem, Deus, tenho de ir.
Sorte é coisa bem rara.
Juro, porém: já não receio a morte.
(Rose Marie Muraro e Frei Raimundo Cintra, As mais belas orações de todos os tempos)
1. O tratamento com que o jovem soldado se dirigiu a Deus foi um
tratamento:
a) familiar
b) irreverente
c)
reverencial
d) cerimonioso
2. Antes da guerra, para o jovem, Deus simplesmente:
a) estava afastado
b) não era considerado um amigo
c)
não existia
d) não atendia às suas orações
3. A frase que está de acordo com a questão anterior é:
a) “Escuta, Deus”
b) “Disseram-me que tu não existes... e eu, tolo,
acreditei”
c)
“Muito amigos
não fomos”
d) “...vi teu céu estrelado”
4. A descoberta de Deus pelo soldado americano veio através:
a) da luta cruenta
b) do soar do clarim
c)
da trincheira rasgada por granadas
d) do céu estrelado
5. O pressentimento da morte aparece numa das expressões do soldado. Que
expressão mostra essa possibilidade?
a) “Muito amigos não fomos, é verdade”
b) “...e esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta”
c)
“Bem, Deus,
tenho de ir”
d) “...será cruenta a luta”
6. “Não sinto medo”. Essa frase pode ser resumida em apenas uma palavra:
a) coragem
b) otimismo
c)
ilusão
d) temor
7. A expressão que melhor traduz o ambiente de guerra é:
a) “Achei a luz...”
b) “...será cruenta a luta”
c)
“... inferno
hediondo”
d) “Deus, sei que tu velas...”
8. O encontro com Deus despertou no jovem soldado uma visão de seu mundo
interior. Dessa visão, ele concluiu que:
a) “Sorte é coisa bem rara”
b) “... tenho muito prazer em conhecer-te”
c)
“Muito amigos
não fomos, é verdade”
d) “... já não sou tão mau”
9. A frase que revela a comoção e o arrependimento do jovem é:
a) “Bom dia!”
b) “Gostei de ti...”
c)
“Mas... sim,
estou chorando!”
d) “...vou ter saudade”
10. A alternativa INCORRETA a respeito do texto é:
a) O soldado anônimo, em sua análise existencial,
confronta conceitos que antes julgava estarem certos.
b) Por se tratar de um texto poético, há o emprego da
linguagem conotativa, como no uso da expressão inferno hediondo, para se referir ao cenário da guerra.
c) A palavra oração,
presente no título, justifica-se devido ao diálogo proposto pelo jovem com
Deus.
d) Caso fosse suprimida a introdução precedente ao
poema, a interpretação não seria prejudicada, uma vez que inexistem informações
importantes no trecho.
11. Assinala
a alternativa correta sobre as palavras do texto:
a) Se retirarmos o acento de apertarás, originar-se-á uma nova palavra.
b) A palavra ataque
é proparoxítona.
c) Compreender
recebia acento,
mas isso mudou com a Reforma Ortográfica.
d) As únicas monossílabas do texto são: só, já, hás.
12. Em qual dos itens abaixo a acentuação gráfica NÃO
está devidamente justificada?
a) será: vocábulo oxítono terminado em A
b) porém: vocábulo oxítono terminado em EM
c) há: vocábulo
oxítono terminado em A
d) céu: vocábulo com ditongo aberto
13. Assinala a palavra com ditongo aberto que NÃO
recebe mais acento:
a) trofeu
b) colmeia
c) papeis
d) ceu
14. Marca a alternativa que preenche as lacunas da frase:
Os ______ de ______ exercem as atividades
______.
a) microempresários, Ijuí, tranquilamente
b) micro-empresários, Ijuí, tranquilamente
c) micro-empresários,
Ijui, tranqüilamente
d) microempresários, Ijuí, tranqüilamente
15. Por serem proparoxítonos, deveriam estar acentuados
todos os vocábulos da opção:
a) rubrica, versiculo, hospede
b) arcaico, camera, avaro
c)
leucocito,
alcoolatra, folclorico
d) periodo, tematico, erudito
16. Qual dos hiatos NÃO deve ser acentuado?
a) saude
b) contribuia
c) tainha
d) caido
TEXTO 4:
terça-feira, 19 de abril de 2011
What?
Quando ouvi falar do projeto do deputado Carrion de restringir o uso de
palavras estrangeiras no Rio Grande do Sul, até achei bacana, embora inócuo.
Sempre achei um saco aquelas pessoas que, na tentativa furada de conseguir
algum tipo de distinção, dizem que precisam de um feedback no lugar de um retorno, ou que querem printar alguma coisa ao invés de
imprimir. Para alguns parece que empregar o vocabulário do inglês, por exemplo,
dá àqueles que o usam a mesma sofisticação de alguém que mora em Nova Iorque tem (ou
não). Daí eu vi que o deputado queria que trocassem mouse por rato e já deixei de simpatizar com a ideia.
Aliás, a forma como algumas pessoas se expressam mostram muito uma certa
"carência" que sentem. O caso clássico disso é o ambiente de
trabalho. Quanto maior o uso de termos técnicos desnecessários, maior é a
necessidade de pedir um esclarecimento. Para se sentirem úteis, importantes,
alguns começam a falar em código para que possam traduzir para os leigos o seu
conhecimento.
In:
http://ccdoarnaldo.blogspot.com/2011/04/what.html
1. A única palavra que não é acentuada pelo mesmo motivo de carência é:
a) topázio
b) água
c) troféu
d) paciência
e) inteligência
2.
Assinale o item em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra de: código, já e inócuo.
a) óculos, guaraná, Cláudio
b) lâmina, Cuiabá, aquário
c) biólogo, está, necessária
d) comprássemos, chá, língua
e) impaciência, sofá, dúvida
3. Marca o item em que
necessariamente o vocábulo deve receber acento gráfico:
a)
da
b)
uteis
c)
alias
d)
ate
e)
dai
4. Pela Reforma Ortográfica, a palavra ideia, empregada no texto, não possui
mais acento por ser uma paroxítona com ditongo aberto. A que outra palavra se
aplica essa regra?
a) doi
b) ceu
c) assembleia
d) heroi
e) girassois
5. Assinala a alternativa incorreta:
a) Algumas letras
estrangeiras que aparecem no texto não pertencem ao alfabeto português.
b) Caso agregássemos o
prefixo ante à palavra projeto, o vocábulo seria escrito sem hífen (anteprojeto).
c) até, inglês e invés são acentuadas pela mesma regra.
d) alguém que
mora em Nova Iorque
tem... Nesse trecho, o sujeito está no singular e, por isso, a forma verbal tem não recebe acento.
e) clássico
recebe acento por se tratar de uma proparoxítona.
TEXTO 5:
O velho e o sítio
Encontrar aberta a cancela do sítio
me perturba... Penso nos portões dos condomínios, e por um instante aquela
cancela escancarada é mais impenetrável. Sinto que, ao cruzar a cancela, não estarei
entrando em algum lugar, mas saindo de todos os outros. Dali avisto todo o vale
e seus limites, mas ainda assim é como se o vale cercasse o mundo e eu agora
entrasse num lado de fora. Após a besta hesitação, percebo que é esse mesmo o
meu desejo. Piso o chão do sítio e caio fora. Piso o chão do sítio, e para me
garantir decido fechar a cancela atrás de mim. Só que ela está agarrada ao
chão, incrustada e integrada ao barro seco. Quando deixei o sítio pela última
vez, há cinco anos, devo ter largado a cancela aberta e nunca mais ninguém a
veio fechar.
(...) o velho sentado no tamborete
faz um grande esforço para erguer a cabeça, e é o tempo que necessitava para
reconhecer nosso antigo caseiro. Deixou crescer os cabelos que, à parte as
raízes brancas, parecem ter mergulhado num balde de asfalto. A pele do seu
rosto resultou mais pálida e murcha do que já era, e ele me fita com um ar
interrogativo que não consigo interpretar; talvez se pergunte quem sou eu.
Penso em lhe dar um tapa nas costas e dizer “há quantos anos, meu tio”, mas a
intimidade soaria falsa. Meu pai entraria soltando uma gargalhada na cara do
velho, passaria a mão naquele cabelo gorduroso, talvez chutasse o tamborete e
dissesse “levanta daí, sacana!”. Meu pai tinha talento para gritar com os empregados;
xingava, botava na rua, chamava de volta, despedia de novo, e no seu enterro
estavam todos lá. Eu, se disser “há quantos anos, meu tio”, pode ser que o ofenda,
porque é outro idioma.
Sem aviso, o velho dá um pulo de
sapo e vai para o centro da cozinha, apontando para mim. Usa o calção amarrado
com barbante abaixo da cintura, e suas pernas cinzentas ainda são musculosas,
as canelas finas; é como se ele fosse de uma raça mista, que não envelhecesse
por igual. Aproxima-se com molejo de jogador, mas com o tórax cavado e os
braços caídos, papeira, a boca de lábios grossos aberta com três dentes, os
olhos azuis já encharcados. E abraça-me, beija-me, recua um passo, fica me
olhando como um cego olha, não nos olhos, mas em torno do meu rosto, como que
procurando minha aura. “Deus lhe abençoe, Deus lhe abençoe”, diz. Depois pergunta
“que é de Osbênio?, Que é de Clair?” e entendo que ele esperava outra pessoa,
algum parente, quem sabe.
Um cacho de bananas verdes no chão
da cozinha lembra-me que passei o dia a chá e bolacha. Na geladeira, que é um
móvel atarracado de abrir por cima, encontro um jarro d’água, uma panela com
arroz e uma tigela de goiaba em calda. Instalo-me com a tigela à mesa, onde
antigamente os empregados comiam. O velho adivinha que pretendo passar uns
tempos no sítio, e emociona-se novamente. Cai sentado na cadeira ao lado, e
seus olhos voltam a se encharcar, desta vez com lágrimas azedas. Conta o velho
que a mulher morreu há dois anos, que ele mesmo está muito doente, que os
filhos sumiram no mundo. Tapa uma narina para assuar a outra, e conta que com
ele só restaram as crianças. Que os outros, os de fora, foram chegando e dominando
tudo, o celeiro, a casa de caseiro, a casa dos hóspedes, e contrataram gente
estranha, e derrubaram a estrebaria e comeram os cavalos. E que os outros, os
de fora, só estão esperando ele morrer para tomar posse da casa, por isso que
ele dorme ali na despensa, e os netos espalhados na sala e pelos quartos. Conta
que os patrões nunca aparecem, mas, quando aparecerem, vão ter um bom dum
aborrecimento.
(BUARQUE, Chico. Estorvo.
São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p 24-27)
1. Qual das
alternativas abaixo apresenta um objeto não escrito no texto?
a) tigela b) geladeira c) panela d) mesa e)
fogão
2. Assinala
a alternativa correta, que corresponde ao primeiro parágrafo do texto:
a) A cancela que se encontra aberta,
está agarrada no chão, incrustada e integrada ao barro seco...
b) A cancela do sítio perturba o narrador,
porque ela representa o limite entre o que está dentro e o que está fora do
mundo.
c) A cancela escancarada ficou assim
por menos de cinco anos.
d) Cancela e portões de condomínio
são similares, isto é, custam a fechar.
e) A cancela aberta é impenetrável,
conforme desejo expresso do narrador.
3. Assinala
a alternativa correta, que corresponde à descrição física do velho:
a) Seus cabelos têm cor igual à cor
dos olhos.
b) Suas pernas, que já foram
musculosas, agora são finas.
c) O seu tórax é cavado, tem
papeira, e a sua boca de lábios grossos permitem ver três dentes.
d) Usa barbante para amarrar seus
cabelos brancos.
e) A pele de seu rosto é morena, e
os braços estão caídos.
4. Com
relação ao vocabulário empregado no texto, assinala a alternativa correta:
a) A palavra incrustada significa fragmentada.
b) O adjetivo atarracado equivale a encurvado.
c) O emprego da palavra velho tem sentido conotativo, figurado.
d) A expressão pulo de sapo equivale à expressão pulo de gato.
e) Na frase: ...por isso ele dorme ali na despensa, o termo destacado
significa repartimento da casa onde se guardam mantimentos.
5. Com
relação ao último parágrafo, assinala a alternativa que demonstra a apreensão
do antigo caseiro com o futuro do sítio:
a) “Na geladeira, que é um móvel
atarracado de abrir por cima, encontro um jarro d’água, uma panela com arroz e
uma tigela de goiaba em calda.”
b) “O velho adivinha que pretendo
passar uns tempos no sítio...”
c) “Cai sentado na cadeira ao lado,
e seus olhos voltam a se encharcar, desta vez com lágrimas azedas.”
d) “...e conta que com ele só
restaram as crianças.”
e) “Conta que os patrões nunca
aparecem, mas, quando aparecerem, vão ter um bom dum aborrecimento.”